Toda vez que um amigo “parte para fora do combinado”, como
diz Rolando Boldrim, me vem um filme na cabeça de tudo que vivemos, passamos
juntos, e esta semana não foi diferente, com a morte do “grande” Chico (mais
conhecido como “Português”, Francisco Ferreira).
Desde quando o conheci em 1991, na redação do Jornal 1ª
Página, onde trabalhávamos, sua personalidade, carisma e características sempre
foram às mesmas, intactas, independente do que estava passando, dos problemas,
das tristezas, das alegrias.
As noites que passamos nos karaokês, onde se orgulhava em
cantar “sem microfone”, tamanha potência vocal, clássicos como “Mia Gioconda”,
“Boemia” de Nelson Gonçalves, sucessos de Amália Rodrigues, entre dezenas de
outras músicas, que lhe deixava orgulhoso por serem pedidas pelos frequentadores
das mesas ao lado, envolto aos “tragos” da cachaça canelinha, sua preferida,
antes de se abster ao álcool.
Surreais também eram os churrascos idealizados pelo Chico,
principalmente em meados da década de 90, quando chegava num Opala 8 cilindros,
onde saiam do seu interior cerca de oito pessoas, certamente pela dificuldade
em não saber negar aqueles que mesmo sem carro queriam estar presentes,
compartilhar a festa.
Ao lado de outro amigo, fundamos, naquela época, um jornal
chamado “Mundo Mídia”, atingindo toda região, onde adentrávamos as madrugadas
na diagramação das edições, degustando o famoso “feijão gordo”, o qual ele
tinha orgulho em preparar.
Não esqueço das “Exposições” quando criava agendas, livros,
crachás, enfim, tudo com imagens de Raul Seixas, normalmente produtos a serem
vendidos, mas sempre doados por ele mesmo aos menos favorecidos, ou aquelas que
tinham boa aparência, revelando sempre seu lado conquistador.
Algumas das inúmeras passagens deste que tinha um coração
imenso, e uma alma pronta para ajudar.
O último encontro com ele foi há duas semanas, quando pediu
para lhe telefonar, a fim de marcarmos um encontro para conversarmos, e antes
de partir, com aquele “ar” protetor, soltou: “Você não tem motivo para ficar
sumido. Estou com você sempre. Me liga”.
Chico era um “cara único”, que fazia questão de me beijar,
quando nos encontrávamos, sempre com a promessa de dedicar a música “Pai” de
Fábio Jr na próxima vez que fossemos num destes karaokês da vida, e que deixará
muita saudade, não somente no meu coração, mas em todos aqueles que tiveram o
privilégio de dividir sua amizade, sua companhia.
Foi um dos poucos que a vida me deu oportunidade de escolher
como irmão.
Valeu Velho, Valeu!