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19 de janeiro de 2012

Carta ao Bezerra da Silva

Meu caro Bezerra,

Depois que fecharam seu paletó, tem “muito mané dando uma de malandro”, achando ser o rei da “cocada”, onde “com o revólver não mão é um bicho feroz, e sem ele anda rebolando e até muda de voz”. Para você ter uma idéia, são aqueles otários que “mantém a sua meta, não pode ver nada que ele cagueta, moral não tem, e aonde vai não ganha ninguém. Puxa o saco para sobreviver, Puramente desconsiderado, e da vida tem muito que aprender”.

As coisas por aqui não mudaram muito, apenas a velha maconha “deu mole” demais para o crack, que está arrebentando, e ainda tem gente abraçando esta idéia. No nosso tempo eram apenas umas biritas e algumas queimadas naquela planta famosa que havia no fundo do seu quintal, que fazia as nossas cabeças, sem flagrante, pois quando o “delega da área” chegava, a fumaça já havia subido nas nossas cucas. Lembra?

Você não acredita, mas tem uns e outros por aqui, que confia muito em si mesmo, mas não passa de um “vacilão”.

Comigo, meu velho, praticamente a mesma coisa, com algumas mudanças, sendo umas para melhores e outras nem tantas. De um tempo para cá, voltei à estaca zero, pois reaprendi a viver sem dinheiro, sem cartão, sem cheque, e muitas vezes pressionado, preocupado e sem direção. Aquilo que você já havia passado, sem refresco.

@RobertoPrice

Conforme você bem sabe, aqui a felicidade está no capital, no valor daquilo que você pode comprar, presentear e desfrutar. Aquela falsa realidade. Estou arcando com as conseqüências de minhas escolhas, mas sem nenhum remorso, pois faria tudo de novo.

Tudo isso fez mostrar quem é quem, como uma lagarta que sai do seu casulo, como uma imponente coruja que finge ignorar a luz solar, ou ainda como uma discriminada cobra que necessita dar seu bote antes de atacar. O que posso te adiantar, é que o meu conforto não está em nenhuma cédula de dinheiro, mas numa próxima eu te conto detalhada e reservadamente. Valerá a pena.

Saudoso Bezerra, apesar de tentarem acabar comigo, “sou cobra criada e tenho muito veneno. Sou neto da madrugada e afilhado do sereno”. Vou seguindo sempre acreditando que um dia pode ser melhor que o outro, rezando aos Orixás me proteger da maldade e da injustiça.

Fique em paz, mandando lembranças ao Kid Morengueira, ao Cartola e ao mestre Noel, pois em breve estaremos juntos ouvindo seu samba, suas gírias e suas histórias da malandragem, que tanto nos faz falta.

Quando puder mande notícias, pois o seu povo, principalmente das favelas, que hoje denominam comunidades, jamais te esquece.

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