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15 de abril de 2012

"BEM VINDO AO INFERNO"

Eram sete e pouco da manhã de ontem, e ao chegar na primeira grade o agente penitenciário me questiona: “O amigo que você vai visitar pertence ao PCC?”. Grande pretensão achar que eu responderia. Aliás, páreo a páreo saber qual “raça” é pior: Polícia ou Carcereiro.

Fui como simples visitante e já na vistoria testemunho uma senhora ser barbaramente humilhada por outro destes “vermes”.

Passando a primeira etapa, bastante cansativa e desorganizada, logo no saguão de entrada deparo com uma faixa imensa com os dizeres: “Bem vindo ao Inferno”. O cheiro é uma mistura de mofo, produtos de limpeza e alguns temperos que somente as cadeias possuem. Aliás, já perdi as contas de quantas vezes fui em prisões, e sempre carreguei comigo este odor que impregna no subconsciente.

Logo vejo Jack (nome fictício), e com um abraço pediu para acompanhá-lo até o seu X (cela na linguagem interna), que lá nos aguardavam sua esposa, um tio e outros condenados. Os corredores imensos e aquele vai-e-vem de pessoas faziam com que não houvesse distinção entre os visitantes e os detentos, até que chegamos e como uma residência, os demais presos me recepcionaram com todas as honrarias.

A cela imensa, muito limpa, se manteve sempre com a grade aberta, tendo cinco beliches, cortinas, fotos de familiares envoltas as de mulheres nuas, dois televisores, alguns rádios, santas e diversos copos de cafés oferecidos constantemente pelos anfitriões.

Almoçamos e fomos todos para o pátio, onde a grande maioria que não recebe visita, os chamados abandonados, ficaram andando ordenados feitos formigas em volta da quadra, a fim de passar o tempo e disfarçar o esquecimento.

O cigarro é a moeda, as mercadorias são trocadas, e a pergunta é uma só, entre todos eles: Quando vou sair daqui?


Chega um detento que sabendo da minha profissão, tira algumas dúvidas de seu processo de execução, reclamando que não há oportunidade de trabalho dentro da penitenciária.

A sirene soou, e nada mais me restou senão me despedir e juntamente com alguns pertences que ficaram no armário, voltar à realidade externa.

Na viagem de retorno pra casa, tiro comigo algumas conclusões: Lá dentro não vi um rico; os crimes em sua grande maioria estão relacionados a drogas e a pequenos furtos; o líder de cada ala não é o mais forte, e sim o mais equilibrado; as leis internas são mais justas que aquelas feitas aqui fora; o PCC reina como o único partido; os covardes se escondem em Jesus nas seitas evangélicas; as drogas e as armas estão visíveis aos abutres de plantão; comprovando que este sistema está mais falido que os cofres do Flamengo.

10 comentários:

  1. AMEI ESTE TEXTO. MARAVILHOSO.

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  2. Alexandre, por onde você anda? Sumiu. Não te vejo mais em lugar nenhum. Vc foi visitar ou está preso kkk. Apareça. Muito bom este seu depoimento

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    1. Miltinho, meu amigo. Por enquanto ainda não estou preso (dependendo a forma que é vista a situação – rs). Estou vivendo igual ao Bin Laden e ao Saddam, escondido, mas preparando o exército do Iraque contra as forças aliadas (rs). Tenho um amigo, que defende que estou igual ao Rei Roberto Carlos, no apartamento na Urca, numa forma refugiada, saindo apenas para dois compromissos anuais: Fazer o especial no final do ano, e acenar para os fãs, da sacada do hotel, no dia do meu aniversário (rs). Contudo, apelidei este amigo de Erasmo, pois assim poderemos compor algumas coisas juntos (rs). Deixando as brincadeiras de lado, apenas não nos encontramos, mas iremos marcar para colocar os assuntos em dia. Um abraço carinhoso.

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  3. Concordo com você que a lei dos presídios é mais justa, até porque estuprador lá dentro não tem vez. Aqui fora o cara usa e abusa e nada acontece. Nem os próprios presos concordam com tanta barbaridade de criminosos que jamais serão recuperados e matam para disseminar a raça. O crime do colarinho branco também nunca será visto nestas prisões, pois normalmente os caras tem privilégios e ficam em celas da Polícia Federal, com todas as mordomias. Se tiver grana é uma coisa, e se não tiver, acaba como todos estes que vc mencionou neste post. Sensacional o que vc aborda. Continue na atividade, meu amigo.

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  4. Pedro Henrique, Franca-SP16 de abril de 2012 às 00:43

    Rico preso? Nós estamos no Brasil

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  5. O clipe do Racionais, que não é esse o oficial, é um dos melhores que já assisti. Não foi à toa que ganharam vários prêmios na época com esta música. Excepcional escolha. Muito bom o texto e ainda mais a imagem escolhida.

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    1. CONSIDERO OS "RACIONAIS" COMO O PRINCIPAL GRUPO DE RAP DO BRASIL, ONDE RETRATA EM SUAS LETRAS A REALIDADE DA PERIFERIA E DOS MENOS FAVORECIDOS (OS CHAMADOS TRÊS P'S).

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  6. A Polícia Militar, essa turba, discípulos de Torquemada, não abandonou as práticas ditatoriais, continua a investir contra os direitos do cidadão. É paga pelo povo para protegê-lo e dar-lhe segurança, mas ao contrário, espanca-o, desacata-o e vive de rabo preso com o crime organizado, se corrompe e corrompe. *(...) Povo que tem a PM que temos não precisa de inimigo externo. O que é que o Presidente da República está esperando para extinguir – de uma penada! – esse inimigo interno do povo brasileiro? Que lhe matem mais filhos e irmãos? Que lhe ceguem os olhos e amputem as pernas? O presidente dispõe da medida provisória, que maneja com perícia e munificência. Pois, use-a, para acabar com esse bando de jagunços fardados, comandados por um bando de facínoras. Temos dito! Será o caso de pedir asilo ao estrangeiro depois dessa?*
    Num país como o nosso, que é uma praga de maldade e lixo, corrupção e desigualdade social gritante, já não há quem negue: vivemos atolados na lameira e no mesmo lodo todos manuseados... Brasil, problemático e febril, o que não chora não mama, o que não rouba é um imbecil...
    Quem vai para a cadeia é preto, pobre e puta. É a justiça do PPP. Portanto, não me venham com desculpas esfarrapadas, a polícia militar tem de ser extinta já, pois o óbvio não confunde nem ao daltônico. Os verdadeiros criminosos estão aqui fora , do lado de cá das muralhas das podres prisões, essa gigantesca indústria do crime, que tem enchido o bolso de muita gente tida e havida como honesta. Muitos justificam os crimes cometidos pela polícia, alegando que um policial trabalha sob pressão, sem armamento de qualidade, só que esse armamento sem qualidade e fraco, tem matado ao longo dos anos, não bandidos, mas a grande maioria dos assassinados pela polícia, comprovadamente, é inocente, pobre e preto. Dizem que a polícia ganha um soldo miserável, mas vejam, defensores da justiça corrupta e dessa polícia mal educada e violenta e prestem bem atenção: Se todo o povo brasileiro, em sua totalidade, em todos os recantos deste país continente, ganhasse o dito salário miserável que a polícia ganha e tivesse a garantia trabalhista e a impunidade que a polícia militar tem, certamente o quadro social seria outro. Ninguém agüenta mais essa polícia que aí está, corruptível, prepotente e mal educada e assassina. Essa PM tem de ser extinta já. Ou declare-se guerra ao povo brasileiro.

    Aposto minha pele como, extinta a polícia, a violência diminui. Pois, essa PM que aí está, não passa de um resquício da Guarda Nacional, um monte de assassinos fardados e facinorosos, comandando janízaros, que promovem a violência maior contra o povo mal informado que a sustenta. Ou se extingue a PM, ou as Forças Armadas renegam que esta seja uma força militar, ou a PM assume como legítimo patrono, não Tiradentes, mas Joaquim Silvério dos Reis. *Quais capitães-do-mato, investem contra sem-terra, sem-teto, sem-nome, pobres, pretos, mestiços. Que desonra para a farda de Caxias. O lado glorioso que há, nas Forças Armadas devia impedir que o adjetvo “militar” continuasse sendo usado por essa gente. *(Estas admoestações aqui injetadas sobre a pouca-vergonha que é a polícia militar brasileira, são de autoria do genial e corajoso Mylton Severiano, publicadas em sua coluna mensal na revista CAROS AMIGOS, números 32/Nov. 1999 e 34/2000.

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  7. Meu velho amigo, Alexandre, parabéns pelo rascante artigo. Quem deveria estar abarrotando as prisões brasileiras deveria ser a nossa "honrada" Polícia Militar e Civil. Uma corja de corruptos, corrompidos e corruptores, assassinos e torturadores. Um pai não pode bater em seu próprio filho para educá-lo, porque corre o risco de sofrer sanções penais e de ir pra cadeia, agora a polícia militar pode espancar menoores a vontade que não acontece nada. Que povo mais idiota o brasileiro. Aliás a especialidade da polícia e sua única tarefa, é realmente espancar e ofender qualquer cidadão. E não é só em supostos marginais que a polícia bate e denigre, você mesmo, qualquer cidadão de bem e trabalhador, experimente dialogar com um policial numa situação normal do dia a dia, pra você verificar o que é uma pessoa mais despreparada para lidar com o cidadão que paga seu salário. A polícia militar é uma casta demoníaca, treinada para ofender, espancar e assassinar as pessoas, como se ela fosse um exemplo de honradez e dignidade. Pobre país carregador dessa miséria. Parabéns pelo artigo.

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    1. VIVA A RITA LEE, QUE EM SEU ÚLTIMO SHOW, ENFRENTOU A POLÍCIA E SUAS ATITUDES REPUGNANTES. DEFENDO QUE QUALQUER POLICIAL, ANTES DE ENTRAR PARA A COORPORAÇÃO, OU MESMO JÁ ESTANDO NELA, DEVERIA OUVIR "ROBOCOP", COMPOSIÇÃO FEITA POR MARCELO NOVA, INTEGRANTE DO ALBÚM "BLACKOUT". A LETRA DESTA MÚSICA DIZ O QUE REALMENTE É O POLICIAL NO NOSSO PAÍS. VALEU VELHO PELAS PALAVRAS.

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